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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

The Bends: O Radiohead pós-Creep

Radiohead - The Bends (1995)


Em 93 o Radiohead havia lançado Pablo Honey, um álbum sem muitos atrativos, diga-se de passagem, além de Creep. Inicialmente ignorada pelo público, a canção, que já foi regravada por dezenas de artistas renomados, levaria a banda ao mainstream quando relançada alguns meses depois. Depois da "experiência miserável" de uma turnê para divulgação do álbum, registrada em DVD com o nome Radiohead Live at the Astoria, o grupo sentiu a necessidade de iniciar um novo trabalho e livrar-se da pressão gerada pelo sucesso do single.
Em The Bends a sonoridade densa criada por três guitarras, hoje uma característica emblemática desta fase da banda, se tornaria a base sobre a qual letras com uma temática mais política e global, diferentes das abordagens mais pessoais de Pablo Honey, seriam construídas.
The Bends também foi o ponto onde a banda mudou esteticamente. A psicodelia da capa do álbum de estréia deu lugar a uma imagem quase abstrata. A ideia da fusão de um boneco usado em lições de medicina com o rosto de Thom Yorke surgiu em último instante e a produção ficou a cargo do artista gráfico Stanley Donwood, que desde então veio a produzir todas as capas da banda ao lado do vocalista.
Meses antes do lançamento do álbum, a banda lançou o EP My Iron Lung, que trazia a faixa de mesmo nome. My Iron Lung, uma faixa irônica que usa a expressão "pulmão de ferro" como metáfora para a canção que trouxe o Radiohead à mídia, resultou na comparação com bandas grunge como o Nirvana devido ao peso. A música apareceria mais tarde em The Bends.
A atmosfera criada por teclado na faixa de abertura do álbum é uma prévia do trabalho posterior da banda. Planet Telex foi a única canção escrita durante a gravação de The Bends e miticamente foi gravada com Thom Yorke cantando deitado no chão e bêbado depois dos membros da banda terem retornado de um bar.  Foi lançada como single duplo junto à High & Dry, que havia sido gravada antes do lançamento de Pablo Honey
A faixa título de The Bends é uma clara referência à depressão enfrentada pelo vocalista nesta época. Mas a canção responsável pela atribuição do termo "depressiva" ao Radiohead foi, indubitavelmente, Fake Plastic Trees, uma música sobre a terrível sensação de fazer parte de uma sociedade repleta de artificialidade.
Se Bones é um cortejo ao movimento grunge, Just caberia perfeitamente no álbum de estréia da banda de britpop Oasis, que havia sido lançado um ano antes. Clipes inteligentes como o de Just passariam a ser uma das características mais notáveis da banda a partir deste ponto. 
(Nice Dream) é uma canção na qual Thom exprime sua visão negativa sobre o relacionamento com as pessoas ao seu redor. Uma prévia do que seria No Surprises, lançada dois anos mais tarde no álbum Ok Computer.
Após a hermética Bullet Proof...I Wish I Was, mais uma faixa que denota a corrente depressão de Thom, chegamos à Black Star, uma canção com uma abordagem tão pessoal quanto as de Pablo Honey. 
Uma das faixas mais admiráveis do Radiohead é Street Spirit (Fade Out), que encerra The Bends logo após a descartável Sulk. Street Spirit, lançada como single, viria a atingir a posição mais alta nas paradas musicais até então em relação às canções anteriores da banda. O videoclipe sombrio e cheio de experimentações com técnicas de gravação de vídeo contribui muito na crescente popularidade da banda.
Apenas depois do lançamento de Ok Computer (1997) o Radiohead passaria a ser visto como uma das maiores bandas de todos os tempos, o que não impediu que The Bends viesse a aparecer, em 2006, na lista dos 50 Álbuns Que Mudaram a Música. Thom Yorke popularizou o uso da voz em falsete, servindo como referencia à muitas bandas nos anos 2000, como por exemplo o Coldplay.  A revista Melody Marker publicou um artigo no qual Thom   era definido como um novo mártir do rock com tendências suicidas, assim com Kurt Cobain ou Ian Curtis. Um equívoco, felizmente.



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