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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ágætis byrjun: "Deus chorando lágrimas de ouro"

Sigur Rós - Ágætis byrjun (1999)




Assim como os deuses do rock progressivo do Pink Floyd, o Sigur Rós levou o conceito de música além de qualquer conveniência, fazendo do seu segundo álbum de estúdio um dos mais revolucionários de todos os tempos. No entanto, enquanto a banda de rock progressivo foi muitas vezes rotulada como ambiciosa, os islandeses ganharam o prestígio do público pela sensibilidade aguçada de Ágætis byrjun, um álbum recheado de texturas áspera criadas pela guitarra tocada com arco de violoncelo, uma das características mais atraentes da banda, e iluminado pela voz em falsete de Jón Birgisson. 
Anteriormente, a banda havia lançado Von(1997), álbum que evoca a sonoridade ambiental e sombria de grupos dos anos 80 como os Cocteau Twins. Depois das críticas mornas ao álbum de estréia da banda, o Sigur Rós ganhou merecida aclamação e conquistou o sucesso comercial fora da Islândia com o trabalho que se tornaria a pedra fundamental do estilo conhecido como post-rock. 
A produção de Ágætis byrjun aconteceu de forma tão complicada quanta à de Von, que se estendeu por mais de três anos. A capa foi feita de modo artesanal e a distribuição foi, no princípio, realizada manualmente, o que resultou na demora para o lançamento fora do território islandês.
É curioso o fato de que, no álbum, exista uma correlação entre as faixas que pode passar despercebida: a introdução, quando tocada ao contrário, torna-se um fragmento da faixa título; Avalon, última faixa, contém partes instrumentais de Starálfur em velocidade reduzida cerca de quatro vezes.
As influências musicais encontradas em Ágætis byrjun vão desde o jazz e do blues à música popular da Islândia.
Após a hermética introdução do álbum fundir-se à sons de vulcões e gêiseres, entramos na hipnótica Svefn-g-englar, que se tornou o primeiro single da banda. A faixa tem uma ambientação subaquática, tanto sonoramente quanto liricamente, fazendo referências à vida intra-uterina. O belíssimo videoclipe, que traz como protagonistas pessoas com necessidades especiais, confere a proposta minimalista do Sigur Rós.
Starálfur é uma das canções mais iluminadas de Ágætis byrjun, com sua grandiosa melodia consistindo em um mesmo trecho sendo executado primeiramente na forma usual e depois de forma reversa. Neste ponto você já estará espantado com a magnificência da banda.
Em Flugufrelsarinn, encontramos pela primeira vez uma sonoridade que não nos é estranha. Fusão de jazz com guitarras reverberantes??? Eles são mesmo geniais!
Ny Batteri abre com uma linda construção sobre instrumentos de sopro. Aqui, pela primeira vez, a bateria em ritmo lento evolui para uma seção de percussão mais pesada. 
Hjartað Hamast é uma viagem sonora transcendental  que nos absorve com sua melodia inconstante influenciada pelo jazz e pelo blues. A mudança de um vocal sussurrado ao quase gritado por Jón merece destaque.
O videoclipe cinematográfico de Vidrar Vel Til Loftarasa fez com que esta se tornasse uma das canções de maior prestígio do álbum. A letra belíssima aliada à um clipe com uma abordagem tão política-social quanto o de Svefn-g-englar faz deste um dos momentos mais sublimes do álbum. A canção cresce de uma sonoridade minimalista à um momento de puro êxtase.
Depois da erupção sonora em Vidrar Vel Til Loftarasa, entramos em uma canção mais tímida: Olsen Olsen, cantada em Volenska, uma língua inventada pelos membros do Sigur Rós que já havia sido utilizada em canções de Von.
A aura de simplicidade segue na faixa título. Ágætis byrjun ("Um Bom Começo, em islandês) foi nomeada depois de um amigo da banda ter ouvido a música e exclamado "isto é um bom começo!".
Classificar algo como indispensável pressupõe que isto seja, de alguma forma, enriquecedor.
Ágætis byrjun vai além disso. É, antes de qualquer adjetivo, um álbum visionário. O limiar entre consciência e subconsciência. É essencial.



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