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sábado, 27 de agosto de 2011

The ArchAndroid: Uma odisséia futurista


Janelle Monáe - The ArchAndroid (Suites II & III) (2010)



Janelle Monáe é, para o Séc. XXI, o que David Bowie foi para o século anterior: uma visionária utilizadora de suas experiências no teatro traçando um panorama da decadência humana que tem como protagonista uma personagem digna de filmes de ficção científica.
O EP de estréia de Janelle, Metropolis (Suite I: The Chase) (2007), inspirado pelo filme de mesmo nome dirigido por Fritz Lang nos anos 20, atraiu a atenção da mídia, que  fez comparações entre o trabalho da americana não apenas com o estilo de Bowie, mas também de artistas como Outkast e Michael Jackson. Apesar dos elogios, Metropolis não obteve o desempenho comercial esperado (e merecido).
The ArchAndroind (Suites I & II) dá continuidade à esta ópera futurista que narra a história da androide messiânica Cindy Mayweather, que fora enviada ao passado para salvar os habitantes de Metropolis da Great Divide, uma sociedade secreta que suprime a paz e o amor. O álbum é, sobretudo, um manifesto de liberdade, apresentando similaridades com o filme de Lang não só em termos de enredo, mas também visualmente: a capa fora inspirada pelo pôster de Metropolis.
As duas metades de The ArchAndroid são definidas por aberturas cinematográficas.
A primeira parte, uma suíte apocalíptica na qual Cindy se mostra apaixonada pelo humano Sr. Greendown, é um casamento entre o pop retrô, a música gospel e o R&B, sendo que Locked Inside possui similaridades  rítmicas com Rock With You, do Michael Jackson. 
Em Oh, Maker, Janelle flerta com a música country, que por alguns segundos nos faz esquecer do quão essencialmente futurista é The ArchAndroid
 Come Alive (The War Of Roses) é um faixa de rock cru e agressivo. Mais uma vez, a cantora americana expõe sua versatilidade ambiciosa e infalível.
A psicodelia de Mushrooms & Roses e Sir. Greendwon , canções robóticas e cheias de nostalgia , foi influenciada, provavelmente, pelo som e pelo lirismo revolucionário dos Beatles, no final dos anos 60.
Nesta primeira parte, Janelle transita entre ritmos dançantes e reflexões de conteúdo escatológico. Ela tem se referido a The ArchAndroid como um "retrato emocional", mas se toda a emoção do álbum fosse reduzida a uma só faixa, esta seria Cold War, uma belíssima canção acerca de uma pergunta que diz respeito a todos os seres humanos: o que é a liberdade, afinal?
No videoclipe intimista, que segue a estética nua e simplista de Nothing Compares 2 U, de Sinéad O'Connor, as sensações de euforia e tristeza surgem quase que concomitantemente. Um registro visual indelével para uma das faixas mais aclamadas de 2010.
Tightrope é uma canção agitada sobre ser julgado e deixar-se sentir abatido por tais julgamentos. 
Na segunda parte de The ArchAndroid, Monáe surge com uma sonoridade assustadoramente alienígena, sem nunca soar exagerada. 
Wondaland contém elementos da música disco dos anos 80 enquanto 57821 apresenta vocais tão harmonizados quanto os da dupla sessentista Simon & Garfunkel.
Quando a música clássica expressionista de Debussy surge ao final de Say You'll Go, não resta dúvidas: Janelle Monáe é incrivelmente habilidosa em fundir estilos. 
 A última faixa de The Archandroid, BaBopByeYa termina com uma frase de redenção: "A liberdade me chama, e eu tenho que ir". Desfecho magnifico para um álbum grandioso como este, que seria, mais tarde, indicado a um Grammy na categoria Melhor Álbum de R&B do ano.
A fusão descarada de ritmos divergentes por Janelle seria um convite ao fracasso, não fosse sua capacidade de tornar este o atrativo mais inusitado de sua música. 
Ela está aqui para ficar.



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