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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Kid A: Um eco dos anos 2000

Radiohead - Kid A (2000)




Para livrar-se da pressão exercida pelo público que esperava ansiosamente pelo sucessor do histórico Ok Computer (1997), o Radiohead resolveu lançar um EP na tentativa de acalmar os nervos dos fãs e da crítica.
Airbag/How am I driving? (1998), que trazia B-sides do lançamento recente, serviu apenas para aumentar as especulações acerca de um novo álbum.
Quando Kid A finalmente veio ao público, as reações foram diversas: enquanto alguns imploravam pela volta das guitarras nas músicas da banda, outros consideraram o álbum imediatamente como revolucionário e definitivo na história da música.
A ideia de focar prioritariamente nas texturas sonoras não é inovadora: nos anos 90, DJ Shadow havia lançado um álbum basicamente instrumental e inteiramente sampleado. Os gigantes do U2 também fizeram história ao expressar o conceito de Pós-Modernismo no altamente experimental Achtung Baby (1991).
Kid A mudou o conceito de que o Radiohead era uma banda fadada a hinos do rock. Diferente dos trabalhos anteriores do grupo, este álbum é minimalista e abstrato, influência da música ouvida pelos membros da banda neste período: o krautrok alemão, IDM (música inteligente para dançar), jazz e música clássica do século 20.
Apesar de não ter dado origem à single ou videoclipe, Kid A ganhou um Grammy na categoria Melhor Álbum Alternativo e foi nomeado na categoria Álbum do Ano. Na lista dos melhores álbuns da década feita pela revista Rolling Stone, o álbum aparece em primeiro lugar.
Everything in Its Right Place é ainda citado por Thom Yorke como single principal, apesar deste não ter sido lançado fisicamente. Nas primeiras notas de piano elétrico processado por programas de computador a banda já deixa clara a proposta deste novo trabalho: Kid A não é um álbum convencional. Soa como se o Radiohead estivesse ironizando sobre o apocalipse. Os responsáveis pela produção de Vanilla sky, filme cult de thriller psicológico lançado em 2001, entenderam a mensagem da banda: Everything in Its Right Place aparece como parte da trilha sonora e pouco antes de uma cena chocante de acidente de carro o protagonista pergunta à acompanhante, enquanto escolhe uma música: "Radiohead?".
A faixa título, cheia de experimentalismo, inicia como sendo uma canção de ninar. O uso das Ondas Martenot, equipamento para distorção de voz criado no final do século 20 faz de Kid A o trabalho mais singular do Radiohead até então.
Em The National Anthem, lembramos que na banda ainda existe um baixista. Depois do surrealismo meditativo de Everything in Its Right Place e Kid A, entramos na faixa mais pesada do álbum. A sonoridade caótica criada por metais faz desta faixa algo complemente imprescindível em um álbum com uma proposta inovadora como este.
Thom York já se referiu à How to Disappear Completely como sendo a melhor composição do Radiohead. A mensagem niilista da música reflete o estado de espírito do vocalista nesta época: "Eu não estou aqui. Isto não está acontecendo". Os arranjos de cordas e metais aliados à letra quase perturbadora fazem de How to Disappear Completely superiormente depressiva em relação à No Surprises.
Depois de um interlúdio que remete à bandas experimentais de música eletrônica como a alemã Tangerine Dream, Optimistic faz uma análise social com uma visão absolutamente negativa: "Os peixes maiores comem os pequenos".
Em In Limbo, entramos em um uma atmosfera cheia de murmúrios sobre estar perdido. É a faixa mais indigerível para os que esperavam algo que seguisse o conceito musical característico da banda em Kid A.
Idioteque é imediatamente impactante. Com samples de Mild und Liese e Short Piece, músicas feitas de modo experimental em computador nos anos 70 por Paul Lansky e Arthur Kreiger, respectivamente, a faixa faz referências à guerras, mudanças climáticas e do impacto da era da tecnologia.
Depois de todas as reflexões sobre o caos num mundo em um início de milênio, entramos em uma faixa definitivamente triste. Motion Picture Soundtrack, que foi escrita logo depois de Creep(1992)aborda não só o termo "pós-modernidade", mas também faz referência à uma possível segunda chance. É impossível não se emocionar com as últimas palavras de Thom Yorke em Kid A: "Eu verei você na próxima vida".
Kid A foi uma mudança de rumo para o Radiohead. A partir daqui, muito do trabalho da banda seria descrito como experimental. As canções que ficaram fora do álbum seriam lançadas no ano seguinte em Amnesiac
O Radiohead conseguiu captar a sensação de estar entrando no desconhecido de uma forma jamais vista e Kid A não tardou muito a ser usado como referência na música minimalista e experimental, tendo aparecido na maior parte das listas de melhores álbuns dos anos 2000. Absolutamente indispensável.




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