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domingo, 24 de julho de 2011

A curta, porém notável, carreira de Amy Winehouse

Amy Winehouse: Surge uma voz 



O flerte de Amy Winehouse com a música começou ainda na infância. Em uma localidade ao norte de Londres, Amy Winehouse cresceu ouvindo Madonna e, por influência do pai, tinha como ídolo o cantor de jazz e blues Frank Sinatra. Aos dez anos de idade, ela passaria a fazer parte de um grupo de rap que existiu por pouco tempo chamado Sweet ‘n’ Sour. Mas seria aos vinte anos de idade que o talento de Amy Winehouse seria reconhecido, tornando-a de imediato um ídolo de culto dos anos 2000.
Primeiramente, o impacto visual: maquiagem pesada, tatuagens e um penteado remetendo ao início da década de 60 voltaram à moda por influência do estilo da cantora.






Frank (2003)





Intitulado Frank, o primeiro álbum da cantora obviamente ganhou este nome devido à sua admiração por Frank Sinatra, apesar da especulação de que a escolha do título tenha a ver  com o cachorro de Amy, este também chamado Frank. De uma honestidade brutal, o álbum, que traz uma deliciosa fusão de jazz, blues e soul, foi indicado à dois Brit Awards e a um Mercury Music Prize e rendeu à Amy um Ivo Novello Award na categoria Melhor Música Contemporânea por Stronger Than Me, primeiro single do álbum. 
Stronger Than Me traz uma postura feminina crítica e irônica em relação ao universo masculino. Nesta faixa Amy reclama sobre ter de estar tomando o controle o tempo todo em uma relação amorosa. A faixa ganhou destaque principalmente nas paradas musicais da Inglaterra.
Em You Sent Me Flying a cantora apresenta pensamentos contraditórios: "Embora o meu orgulho não seja fácil de perturbar, você conseguiu me derrubar quando me chutou pra escanteio": diz uma Amy apaixonada, mas ainda assim dona de um ego inabalável.
Cherry é como uma segunda parte de You Sent Me Flying. Desta vez, porém, o ego torna-se uma pílula de sarcasmo: "agora tenho uma nova melhor amiga, com uma bagagem que envergonharia você. Cherry é o nome dela" canta Amy referindo-se ao seu...novo violão! Impiedosamente genial!
A próxima faixa, Fuck Me Pumps é igualmente sarcástica. No entanto, agora o alvo das alfinetadas são as mulheres que fingem moralidade.
I Heard Love is Blind é uma faixa ambígua sobre traição. É quase impossível decifrar se temos aqui uma canção romântica ou uma declaração irônica. Já a letra de (There´s No) Greater Love parece ter sido recortada de uma carta de amor e colada sobre uma música simples da Amy.
In My Bed traz uma sonoridade relativamente exótica, contendo samples da música Made You Look do rapper americano Nas. Um dos melhores momentos de Frank.
Take the Box é igualmente fascinante. Nesta faixa, a cantora, usando ao máximo sua habilidade narrativa, se despede de um relacionamento.
Em Help Yourself, a Amy sarcástica mostra-se complacente com os erros masculinos: "Eu não posso te ajudar se você não se ajudar", diz ela como querendo compreender a mente dos homens.
Amy, Amy, Amy é uma faixa um tanto quanto filosófica acerca do próprio trabalho da cantora: "Abusando da energia criativa todas minhas letras ficam inutilizáveis". Mais uma vez a sinceridade escancarada de Amy chega a chocar.
A consagração de Amy Winehouse viria três anos mais tarde com Back to Black, mas certamente Frank, um álbum cheio de inspiração, ainda há de influenciar muito na música contemporânea.





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Back To Black (2006)




É impossível não deixar-se ser seduzido pela capacidade de Amy Winehouse de misturar estilos musicais com história já consolidada e ainda assim surpreender pela originalidade.
Back To Black está mais orientado para o pop quando comparado à Frank, mas as raízes de Amy continuam ali, intactas. O álbum consagrou a cantora imediatamente como dona de uma das vozes mais imponentes de todos os tempos, obtendo uma visibilidade assustadora fora da Inglaterra e ganhando um Grammy na categoria Melhor Álbum de Pop Vocal. Também foi indicado a um Grammy na categoria Melhor Álbum do Ano e ao Mercury Music Prize. No ranking dos 100 Melhores Álbuns da Década 2000-2009 pela Rolling Stone, Back To Black aparece em vigésimo lugar.
Rehab, primeiro single e faixa de abertura do ábum, é uma balada soul nada convencional sobre negar-se a ir para a reabilitação. Altamente biográfica, ganhou em três (!!!) categorias do Grammy Award: Gravação do Ano, Som do Ano e Melhor Performance Pop de Vocalista Feminina. A letra serviria por definir exatamente a imagem passada por Amy neste período: "É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar vocês vão saber...". A exposição da vida particular da cantora aumentara com o sucesso e o uso abusivo de drogas tornara-se conhecido pelo público. Agora ela era conhecida não só pelo talento, mas também pelas atitudes polêmicas, o que inclui gafes em cima do palco devido ao consumo de álcool e agressões. 
Em You Know I'm Not Good, Amy recorre a um tema já abordado em Frank: a traição. A faixa traz um dos melhores momentos da carreira de Amy: uma atmosfera muito singular voltada ao ska criada pelos metais. Não poderia ser melhor.
Me & Mr Jones é uma faixa tipicamente romântica de Amy, trazendo nome de locais frequentados por ela em uma narrativa quase familiar.
Depois de Just Friends, mais uma faixa guiada pelo ritmo e pela harmonia do ska, chegamos a Back To Black, uma das canções mais emblemáticas de Amy Winehouse. É quase impossível imaginar a carreira de Amy sem Back To Black. O videoclipe, todo em preto e branco e mostrando cenas de um velório define a aura da canção. Aqui, Amy aparece desolada, chorando pelas perdas e pelas decepções. Esta mesma mulher que sofre conclui em Love is a Losing Game, uma de suas canções mais desoladoras: "O amor é uma aposta perdida".
Com vocais sampleados de Marvin Gaye e Tammy Terrel, dois ídolos de Amy Winehouse, Tears Dry On Their Own é uma faixa que recorre a um tema freqüente das suas composições: a despedida. Mais tarde a cantora iria experimentar a decepção mais uma vez: o polêmico relacionamento com Blake Fielder-Civil, coadjuvante dos escândalos de Amy, chegaria em breve ao fim, levando-a a depressão e a uma série de declarações que se tornariam um prato cheio aos tablóide: "Eu ainda amo o Blake e eu quero que ele se mude comigo para minha nova casa. Eu não vou deixar ele se divorciar de mim": disse ela em entrevista.
Em Wake Up, Amy mostra-se mais uma vez desolada, solitária. Já Some Unholy War é uma faixa sem ressentimentos: " Sim, meu homem está lutando em uma guerra pagã. E eu estarei ao seu lado".
Depois da faixa repleta de sentimento He Can Only Hold Her, entramos na quase insana Addicted, uma canção sobre aquilo que estava destruindo Amy Winehouse: o vício. Além das referências ao uso de drogas, Addicted é verbalmente vulgar. Polêmica, assim como a vida da cantora nesta altura.
A turnê do aclamado Back To Black foi interrompida em meados de Agosto de 2007 devido à problemas de saúde de Amy relacionados ao abuso das drogas, entre elas a cocaína, o ecstasy e a heroína. Mais tarde, iria cair na internet um vídeo que registrava um momento no qual a cantora fumava crack.
No final de 2007, saiu uma versão de luxo do álbum Back To Black, que trazia covers, demos e performances ao vivo.
O segundo álbum de Amy Winehouse fez com que o reconhecimento pelo trabalho de revitalização do jazz e do soul se tornasse aclamação pela originalidade e pela influência. Não demoraria muito para que a cantora passasse a ser usada como referência.






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Incostâncias e morte
Depois de uma série de escândalos públicos, Amy Winehouse foi, por recomendação do pai, para uma clínica de reabilitação em Santa Lúcia. No entanto, foi flagrada bêbada várias vezes pelos paparazzi. Em uma entrevista de 2010, a cantora declarou que estava livre das drogas há três anos. No ano seguinte, passaria uma semana em uma clínica de tratamento para saúde mental.
Em 23 de Julho de 2011, duas ambulâncias foram chamadas em Camden, Londres, para socorrer uma mulher aparentemente desmaiada. Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa aparentemente por uma overdose. Segundo conhecidos, a cantora havia comprado um coquetel de drogas ao deixar um pub que costumava frequentar em Londres.




Legado
Não há como não fazer comparações entre Amy Winehouse e outros grandes nomes da música que coincidentemente vieram a falecer aos 27 anos de idade. Assim como a cantora, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimmy Hendrix e Kurt Cobain tiveram vidas conturbadas, repletas de momentos polêmicos e eram usuários de drogas pesadas.
E assim como estes artistas consagrados, a curta carreira de Amy Winehouse tornou-a um mito recente, tendo chamado atenção e ganhado a admiração do público não só pelo talento musical, mas também pela postura imponente. 
Amy Winehouse foi a maior responsável pela revolução retrô dos anos 2000, na qual artistas emergentes trazem para sua música a influência e a sonoridade de artistas dos anos 50 aos anos 80 que até então eram consideradas ultrapassadas. Ela imortalizou-se de uma forma triste, mas felizmente viveu o suficiente para compartilhar sua habilidade de transformar sentimento em música com o mundo e se tornar o maior ícone pós-anos 90. Ela é eterna.

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