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domingo, 14 de agosto de 2011

Neon Bible: A religião no novo século

Arcade Fire - Neon Bible (2007)





Qualquer álbum com o nome Neon Bible e com uma capa que traz um livro luminoso entreaberto teria, provavelmente, uma proposta de análise reflexiva sobre a religião, certo? Mas, o que é a religião?
Esta deve ter sido a pergunta sobre a qual os membros do Arcada Fire começaram a trabalhar depois de se tornarem um dos principais expositores da cena indie devido a reação midiática causada por Funeral (2004).
Neon Bible é sobre a religião além de crucifixos, celebrações sacras e livros sagrados: as crenças adotadas pela sociedade deste novo século se apoiam no materialismo, na imagem e na padronização dos costumes imposta pela mídia.
Em Black Mirror, faixa de abertura, o Arcade Fire mostra-se sombrio sonoramente. Para a sociedade moderna, não há nada mais aterrorizador do que envelhecer.
Keep the Car Running é sobre a sensação de estar sendo pressionado pela mentalidade de um mundo pós-moderno e querer fugir disto.
A faixa título é também a faixa mais curta de Neon Bible. Durante dois minutos e vinte segundos, o Arcade Fire nos mantém imersos em uma meditação sobre a aceitação da própria idade e o conceito de um novo Deus ornada por uma belíssima seção de cordas digna de Funeral. É essencial mencionar a performance da canção em um elevador, esta realizada na época de lançamento do álbum.
Os riffs de órgão em Intervention nos fazem sentir prostrados diante da grandeza de tudo aquilo que tem sido definido como divino pela religião criada pelo homem. Estaria esta religião cumprindo sua função de manter a paz e a harmonia no mundo?
Em Black Waves/Bad Vibrations, a banda mais uma vez assume uma postura política em relação as condições de vida no Haiti, como havia feito em Funeral. Esta análise da decadência social segue em Ocean of Noise de uma maneira mais impessoal. Violência e pobreza já fazem parte da história de muitas nações além do país da América Central.
Se The Well and the Lighthouse é uma declaração sobre sentir-se escravizado pela "bíblia de neon", escrita por sangue derramado em guerras e pela subversiva religião moderna, (Antichrist Television Blues) e Windowsill são como uma renúncia a tudo isto. 
Em No Cars Go, o Arcade Fire aparece com uma sonoridade mais comercial. A canção já havia aparecido no maravilhoso EP de estréia da banda em 2003. No Cars Go fala sobre o quão aliviante é encontrar a si mesmo e estar a salvo da pressão exercida pelo imediatismo desta "nova" era.
My Body is a Cage funciona como uma súplica: "Estou vivendo em uma era que chama a escuridão de luz (...) Liberte minha alma". 
Neon Bible ganhou inúmeros reviews favoráveis, aparecendo em, praticamente, todas as listas de "álbuns do ano" em 2007 e servindo como prova de que os membros do Arcade Fire não se encontram entre aquele tipo de artista que se julga maior do que sua obra. 
Fugindo de ironias: divino.



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